25 August 2015

A AURORA VAI ENTRANDO... 



















  



A aurora vai entrando de mansinho pela noite
mistério de luz e trevas misturadas pela água.
Zona de fronteira, o sono é ainda o senhor da noite.
Dormem pássaros, peixes e homens,
dorme, longínqua, a secreta nascente. 

O céu derrete-se em poalha de luz,
espalha em redor a beleza ainda pálida do amanhecer.
O rio espelha a brisa que sopra entre as áleas,
aplaina o caminho majestoso do silêncio.
No barco ancorado em tímida alvorada
vislumbras a esperança da partida.
É uma viagem à deriva pelo silêncio,
uma busca da palavra e do assombro renovados.
Procuras as horas mal gastas, as horas do apagamento,
a perdida ternura pelas pedras, pelo coração das coisas,
a memória do puro azul da infância.
O silencio é a tua única saída, 

o pano branco sobre a ferida,
a libertação da voz.
Há um ruído de acção, uma falsidade de espectros,
um jogo de traições que desejas se extingam.
Há toda uma cidade de crimes que deixas para trás.
Em breve o sinal de partida, incerto o porto de chegada.


Photo © Adão Moreira   -    Poema © Pires da Costa  


 

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